Ter dívidas é normal?
A propósito do estudo anterior, um artigo reflectia sobre as conclusões do estudo, dizendo que a existência da classe média era um mito, se considerar-mos que metade dos norte americano não têm $1000 em poupanças.
Na verdade o estudo reflecte uma realidade que me surpreendeu, face aos salários que fui vendo reflectidos, nos últimos anos, em blogs de finanças pessoais: 56% dos norte americanos não possuem mais que $1000 em poupanças (conta à ordem + aplicações financeiras).
A razão para continuar a falar deste estudo é, precisamente, porque não duvido que a nossa realidade seja equivalente ou pior.
Mas o que me surpreendeu foi, que um dos contribuidores da revista Forbes tivesse concluído que, afinal existe classe média porque têm acesso a crédito.
Para mim, é facto que o acesso ao crédito é uma ferramenta de combate à pobreza e exclusão social (é por isso que sou "banqueira" no KIVA há cerca de 10 anos).
Porém, é completamente falacioso normalizar o crédito como um indicador de riqueza.
Eu aprendi que classe média era a que vivia para além da sobrevivência, dispondo de meios para aceder a coisas como férias e cultura. Agora basta que consiga ter acesso a crédito? Mesmo que este seja utilizado para sobreviver?
Ter dívidas não é algo normal que se vai gerindo (como muitos nos querem fazer crer), mas um problema que temos de resolver, uma preocupação adicional em vidas já difíceis e até a serem vividas na linha da sobrevivência.
É essa mentalidade do "normal ter dívidas" que leva a uma sociedade em que, é preferível ter um telemóvel topo de gama a crédito, que um telemóvel básico sem dívidas. Que leva a que andemos a gastar o que não temos, até à ruptura. Que nos leva a pagar mais por um bem, a adiar para um dia incerto o pagamento e à angústia de não saber se podemos pagar.
Não, definitivamente não me convencem que o cartão de crédito é o sinal de que vivemos numa classe média. Pelo contrário, necessitar dele é uma evidência que não vivemos.