Enquanto não faço o post "não cometam os meus erros no que respeita a obras em casa", o destaque dos sapinhos obriga-me a uma história mais positiva.
É a história da Ana e do António (nomes fictícios), que sempre se consideraram bem na vida: um bom apartamento (com hipoteca, claro), alguns carimbos no passaporte, 2 belos carros, um belo plasma, gadgets e alguns pagamentos em dia nos cartões de crédito. E como eram atinados, possuíam algumas poupanças. Eram "consumidores bem comportados" (palavras da Ana) que compravam bastante e pagavam em tempo.
Até que (há sempre um "até que") chegaram a pequena Carla e o pequeno Daniel (uma surpresa para os papás). Os impulsos de casal jovem e descomplicado foram sendo substituídos pelas naturais responsabilidades e despesas de casal com 2 filhos (e um cão).
A Ana ficou desempregada e o casal não teve pelos ajustes, liquidando todos os créditos com o montante disponível nas poupanças. O bom salário do António permitia fazer face às despesas correntes; a vida ia sendo levada, sem desvarios e com muita cautela.
O surpreendente aconteceu a seguir. Junto à casa dos pais da Ana e do António (não vos contei que cresceram juntos, pois não?) ficou disponível uma habitação que era a resposta às novas prioridades do casal: um casa com terreno amplo, numa zona sossegada, com escola por perto e próximo dos pais de ambos. Era a casa dos (novos) sonhos.
Mas a situação era desencorajadora: casa hipotecada, mercado imobiliário saturado e desemprego de um dos membros do casal, determinaria o fim desta história.
O fim foi diferente do que seria de prever, porque este casal decidiu concretizar o sonho de comprar a sua casa e não pouparam esforços:
- venderam gadgets e mobiliário excedente;
- venderam um dos carros (poupando adicionalmente as despesas habituais - de assistência a seguros);
- pouparam todos os tostões;
- aplicaram toda a poupança em amortizações antecipadas da hipoteca (que fizeram descer o valor das prestações mensais e do capital em dívida);
- acordaram com o vendedor arrendar a casa de sonho em troca da promessa de que esses valores fossem deduzidos no valor acordado para a compra (se essa não se concretizasse no prazo acordado, ficaria para o vendedor a título de rendas);
- colocaram o seu apartamento à venda (com mobiliário e decoração incluídos);
- mudaram-se para uma casa a necessitar de pinturas e outras obras, mobiliário oferecido por familiares e amigos (há sempre quem tenha uma coisa em casa que não necessite);
- continuaram a poupar, com a renovação em mente.
O final feliz: a Ana e o António demoraram pouco mais de 6 meses a vender o apartamento. Compraram a nova casa que ainda precisa de muitas obras ("quando deixo de poder olhar para o papel de parede, vou para o jardim").
O que tenho eu com esta história? Um dia sugeri à Ana que tentasse amortizar a hipoteca mais rapidamente para que pudesse comprar a próxima casa de sonho que surgisse. Juro que foram apenas palavras de incentivo - literalmente conversa de café - , aliadas a alguma acção para que sentisse que dependia dela... mal eu sabia...