Certamente conhecem aquela vozinha que nos diz: apesar de teres gasto o que não devias/não tinhas planeado, foi uma boa compra porque...
Está frequentemente dentro da nossa cabecinha, mas também pode ser ouvida a sair da boca de amigos ou conhecidos quando, perante os nossos incentivos à poupança, respondem com um mas...
... mas comprar um carro novo agora é melhor que continuar a reparar o antigo.
... mas a roupa está tão barata que nem compensa reparar.
... mas o tempo que perdem a procurar promoções, não vale o que se poupa.
... mas estava em promoção.
... mas o cartão de crédito tem juros gratuitos durante X dias.
... mas é só uma prendinha.
...
Este ano, especialmente nos últimos meses, tenho sentido que recuei em vários pontos:
- deixei de fazer o registo de despesas;
- passei a ir ao café tomar o pequeno almoço cerca de 2/3 dias semana (€2.40/dia);
- passei a ir almoçar à restauração mais vezes do que aquelas em que levava marmita (€5 a €8/dia);
- ultrapassei sistematicamente o valor reservado para "maluquices" (€10/mês);
- comprei umas sapatilhas por €25.00, uma semana antes de começarem os saldos (eu nem sabia a data);
- optei por um jantar com as miúdas numa cadeia de fast food quando poderia ter feito uma pizza em casa;
- comprei brinquedos.
Em relação a estas compras ou comportamentos, utilizei pelo menos uma das desculpas que descrevi.
Sabiam que há uma teoria da psicologia que explica estes comportamentos?
Quando algo que fazemos não está de acordo com a opinião que temos de nós próprios (nos nossos valores), entramos em dissonância cognitiva. Para a eliminar ou diminuir, vamos reduzindo o valor desses comportamentos (por exemplo "é um pequeno gasto, face ao que poupamos no resto do tempo") ou introduzindo nova informação ("no fundo, até poupamos a longo prazo" ou "é um investimento em mim própria").
A nossa mente fará de tudo para recuperar o equilíbrio, para defender o nosso ego e a nossa auto-percepção de que somos pessoas boas, sãs, racionais e inteligentes.
A minha principal fonte de insegurança continua a ser a minha velhice. Porém, hoje acordamos com angústias adicionais: a crise na Grécia materializa-se em limites aos levantamentos bancários, bancos fechados, filas nas gasolineiras, filas em supermercados... Racionalmente sei que estamos distantes dessa realidade, mas não posso deixar de ter medo do futuro.
Por variadíssimas razões, tenho de corrigir o meu comportamento.