O que descobri sobre mim no período de isolamento
Ao contrário do que fui lendo e ouvido ser as angústias e necessidades dos outros, descobri que sou muito mais introvertida do que pensava. Eu não senti falta de qualquer tipo de actividade social ou convívio, sequer quando festejei os meus 45 anos (sozinha) no pico da pandemia.
Honestamente, quando se fala de retomar as actividades pré-covid, a única coisa que gostaria de voltar a ter, são as visitas às lojas solidárias para procurar livros.
Infelizmente, mantive todos os meus maus hábitos e não concluí nenhum dos meus grandes projectos que estavam na lista de "se um dia tiver tempo livre". Porque apesar de estar em teletrabalho, eu tive bastante tempo livre.
Mas o que também descobri é que não estou sozinha. Em telefonemas, a ler blogs ou até a assistir a festivais literários online, as queixas foram recorrentes: não consigo ler, não consigo escrever, não consigo motivar-me a sair do sofá ou do ecrã.
A verdade é que subestimamos a importância da rotina na nossa gestão de tempo. Acima de tudo, subestimamos o impacto da dor alheia na nossa saúde mental.
Mesmo dentro de porta, os dias foram sendo marcados pelas conferências de imprensa com os (assustadores) números da pandemia. Com sorte, esses números não tinham um nome.
Por tudo isso, tenho feito o possível para abafar a voz na minha cabeça que me diz que tinha de ter feito mais, sido mais produtiva, aproveitado melhor o tempo de lazer.
No meio de uma pandemia que ceifou a vida de 310 mil pessoas, é importante responsabilizarmo-nos pelas nossas decisões (sempre), mas acima de tudo devemos amarmo-nos o suficiente para não nos julgarmos neste momento extraordinário, para o qual não tínhamos ferramentas.