Desabafo
Começo a ficar cansada das piadas acerca de máscaras e dos receios em relação ao novo coronavírus.
Claramente só pode vir de pessoas que não leram os relatos horríveis de quem viveu a experiência, como por exemplo, de ter de escolher que familiar iria ter acesso a internamento, porque não havia lugar para todos.
Se acham que o nosso SNS não vai colapsar imediatamente numa situação grave, então é óbvio que não lêem notícias, nos últimos anos.
Outra moda, é aligeirar o impacto da doença, comparando-a à gripe.
Ora, para a gripe há vacina, para a pneumonia há vacina (cá em casa todos se vacinam), o que não acontece no novo coronavírus.
Pelo que li (e escolho canais de informação fidedignos) a taxa de mortalidade da gripe anda pelos 0.01-0.05%. Já a taxa de mortalidade do coronavírus em dois dos grupos de alta mortalidade (em que a minha mãe se insere), está a ser apontada como sendo de até 14%, ou seja, mil vezes superior.
Por isso, lamento não aderir à moda da minimização de uma doença que já matou quase 3000 pessoas, em cerca de 2 meses.
Porque na verdade, a ideia de a minha mãe morrer sozinha, numa situação de isolamento hospitalar, não só está a deixar-me alarmada, como absolutamente aterrorizada.
P.S.1 - A última vez em que a minha mãe esteve "internada" num hospital público, foi um internamento de 3 dias no corredor das urgências. Eu sei o que vi, durante esses 3 dias (em que não saí de lá).
P.S.2 - Talvez houvesse menor alarmismo, se as nossas autoridades primassem pela informação em vez do "aqui não passa nada".
No primeiro caso suspeito, foi o que se viu. Num dos últimos, vimos que as teóricas salas de isolamentos não passam de ficção e que, na verdade, o isolamento se faz no corredor da casa de banho.