Emprego da m****
People aren't stupid or lazy or indisciplined because they choose things you wouldn't. They just have different priorities than you.
Há dias, referiram-se à posição profissional que deixei como um "emprego da m****".
As pessoas confundem valores monetários com valores que reflectem o grau de importância de uma pessoa.
Vemos isso todos os dias na sociedade, em que até o trato social reflecte patamares económicos. Pessoas modestamente vestidas são "tu" e pessoas mais ostentosamente vestidas são tratadas com muito maior deferimento. E pessoas que ganham mais, consideram-se melhores que os outros, ou não fossem os caros mal estacionados em lugares para pessoa com deficiência, quase todos do topo de gama (dados baseados em experiência pessoal).
Eu conheço o meu valor
O meu "baixo" salário reflectia uma situação de liberdade: trabalhava a meio tempo e com total liberdade para dar prioridade à minha mãe, se precisasse de passar um ou até mais meses em casa (como aconteceu).
Aliás, seis meses depois de começar, permitiram-me trabalhar a partir de casa, durante um mês. Foi quando o diagnóstico da minha mãe foi feito.
Se a minha mãe estava pior, simplesmente informava que não podia ir. Se precisasse de ir três dias por semana para a fisioterapia, simplesmente avisava que não estaria 3 dias por semana.
Eu conheço o meu valor. Neste momento, qualquer anúncio para a minha posição, tem um salário de entrada de 1600€ (quase o dobro do que auferia).
Eu era apreciada
Trabalhei com o melhor do melhor na minha área, não só a nível nacional como internacional. Pessoas intelectualmente estimulantes, o topo das respectivas áreas.
Sempre considerei que a minha posição - burocrata e bombeira de serviço - era eliminar todos os obstáculos e entraves para que elas/es pudessem brilhar nos seus projectos.
Eu era a facilitadora, aquela que garantia que o ambiente (físico e outro) fosse "invisível" para que se pudessem concentrar em criar.
Sempre que se tinham de preocupar com um formulário, um orçamento, uma cadeira a funcionar mal, eu estava a falhar(-lhes).
Saí contra a vontade da minha equipa, fizeram dois processos de contratação (para me substituir) e mesmo assim, tive de insistir, para escolhessem uma pessoa do último concurso.
Se achasse que tinha condições psicológicas para assumir o cargo remotamente, continuaria a trabalhar a partir de casa.
Mas tenho valores e seria desonesto e arriscadíssimo fazê-lo.
Num mundo alternativo, estaria/seria muito feliz no meu e"emprego da m****". Já teria feito o doutoramento e teria progredido na carreira.
Na verdade, não fiz mais do que as milhares/milhões de mulheres que interromperam a sua carreira profissional para responder a necessidades no âmbito familiar.
Na verdade, sem a "dramática" saída do mercado de trabalho, muitos mais milhões fazem-no diariamente: são elas que mais vão às reuniões de escola, às consultas de saúde, que faltam para cuidar na doença...
Os custos profissionais e económicos de ser mulher são evidentes, nas assimetrias da conciliação entre a vida profissional e familiar.
Uma triste realidade, lamentavelmente muito actual.