Financiar o fundo de emergência vendendo velhas aspirações
Eu sonhei ter um lindo e colorido serviço de louça da Vista Alegre. E porque tinha familiares que gostavam de mim, fui recebendo, peça a peça, o sonhado serviço.
Mas a realidade é que raramente o usei, assim como um serviço de dezenas de copos (em que uma boa parte nunca saiu das caixas). Na verdade, ao desarrumar as caixas e caixinhas ainda encontrei peças que nem sabia que tinha.
Também encontrei no sotão dos meus pais um serviço de chá que recebi "para o enxoval", ainda em adolescente. Está na caixa em que me chegou - nunca foi usado. Já o ofereci a uma familiar.
Por vezes, temos de pura e simplesmente aceitar que mudamos. Os nossos gostos mudam, as nossas prioridades mudam.
O único obstáculo para me desfazer de tudo, era o sentimento de dever para quem mos ofereceu. Porém, a realidade é que as minhas prioridades também são outras e não estamos a falar de bens transmitidos entre gerações. Tudo foi comprado de novo para mim e não posso continuar a sentir-me refém de COISAS.
O produto da venda foi convertida em fundo de emergência e o móvel onde tinha a louça foi doado.
Curiosamente, o móvel era a última peça de mobiliário de um conjunto de sala que, peça a peça, fui doando a um familiar.
Foto de Dawid Zawiła - Unsplash